terça-feira, 3 de outubro de 2023

De vez em quando

De vez em quando

é só
de vez em quando
que você encontra
alguém com uma
presença
e eletricidade
combina com a tua
naquele 
momento

e nessa hora
geralmente é
uma estranha

foi há 3 ou 4
anos atrás
eu andava pela
Sunset Boulevard
em direção a Vermont
quando
a uma quadra de distância
notei uma
mulher vindo
em minha direção

havia algo
em sua postura
e no seu andar
que
me
atraiu.

conforme nos
aproximamos
a intensidade
aumentou.

de repente
eu sabia toda
a sua história:
ela viveu
a vida toda
com homens
que nunca a conheceram
de verdade.

quando ela chegou perto
quase fiquei
tonto.

podia ouvir os seus
passos quando
ela chegou perto.

olhei em
seu rosto.

ela era tão
bonita
quanto eu
imaginei
que ela seria.

conforme passamos
nossos olhos transaram
e se amaram e
cantaram um
para o outro

e então
ela passou
por mim.

fui andando
sem olhar
pra trás.

então
quando olhei
pra trás
ela tinha
sumido.

o que se deve
fazer
num mundo
onde quase tudo
que vale a pena ter
ou fazer
é
impossível?

entrei num
café
e resolvi que
se algum dia a visse
de novo

eu falaria
“por favor, escuta,
só preciso
falar com
você…”

nunca mais a vi
de novo

nunca mais a verei.

a rigidez de nossa
sociedade silencia
o coração
de um homem

e quando você
silencia o coração
de um homem
você deixa ele
por fim com apenas
um pênis.

Charles Bukowski - Trad. Ezequiel Pereira

domingo, 12 de março de 2023

Jorge Luiz Teixeira

Jorge Luiz Teixiera

No trabalho, dividi o mesmo andar que o Jorge Luiz entre 2009 a 2014. Foi aí que nossa amizade começou. Jorge era um dos poucos engenheiros com quem trabalhei da mesma geração que meu pai, também engenheiro. Formado em eng. Elétrica pela UFMG, antes de 1980! Talvez por isto, numa época em que ele estava passando por um problema de relacionamento, ao mencionar que se uma colega pegasse na mão dele, ele apaixonaria, quis apresentá-lo para minha mãe... (isto foi bem antes dele casar, pela 2ª vez). A brincadeira gerou muitas gozações no setor, lembro das gargalhadas do Valério ao saber deste caso. Mas mantenho a palavra: não seria má ideia ter o Jorge como padrasto.

Outra surpresa, foi escutar ele tocando violão, bossa-nova, por 2 vezes. Eu sei que vou te amar, na despedida de nossa colega, Maria Luiza e outras músicas numa festa de final de ano, em Sete Lagoas. O Jorge foi uma grande inspiração para nós, quando engenheiros jovens. Falo nós, porque lembro de coisas como o Danilo Derick, também músico, contando sobre um tema musical que o Jorge estava desenvolvendo no saxofone, às madrugadas! São estas as histórias que ficam quando um colega parte para o andar de cima. Saudades!

sábado, 26 de março de 2022

Weezer

Conheci Weezer qnd devia ter 19 anos, com o album Azul sendo apresentado pelos amigos Luiggi e Aline. Mas o som não me capturou de início, longe disto.

Aos 25 anos, em 2006, o Mafra às vezes era DJ aqui em BH. Nesta época, copiei alguns CDs de música dele, na época que os DJs ainda carregavam aquelas pastas grandes de CD!. Um dos copiados era o album Verde do Weezer. Curti muito, a ponto da banda tornar-se uma das minhas bandas favoritas.

Meu album favorito é Pinkerton (1996). Infelizmente, pela correria da vida, eu diria, não acompanhei muito os albuns após o Make Believe (2005), situação que pretendo mudar.

domingo, 6 de março de 2022

Falecimento do poeta Thiago de Melo

Dia 14/01/2022, na hora do almoço, escutei na rádio @ufmgeducativa sobre o falecimento do poeta Thiago de Mello no auge dos seus 95 anos.

Imediatamente, fui tomado por sentimentos estranhos: com certeza partes dos sentimentos foram de tristeza, o seguinte pensamento veio a cabeça: "tudo já está tão difícil e perdemos um grande poeta...", mas logo veio alguma resignação, afinal ele vivera 95 anos!

Cheguei em casa e antes de retornar ao trabalho, gravei a seguinte homenagem a ele: https://www.instagram.com/p/CYuDR1jIJLY/?utm_source=ig_web_copy_link 

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Lista de Preferências - Bertold Brecht

Alegrias, as desmedidas.
Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis.
Conselhos, os inexequíveis.

Meninas, as veras.
Mulheres, insinceras.

Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.

Domicílios, os passageiros.
Adeuses, os bem ligeiros.

Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.

Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.

Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.

Cores, o rubro.
Meses, outubro.

Elementos, os fogos.
Divindades, o logos.

Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas.

Trad. Paulo César de Souza

domingo, 27 de junho de 2021

Epitáfio para o Séc XX

1. Aqui jaz um século
onde houve duas ou três guerras
mundiais e milhares
de outras pequenas
e igualmente bestiais.

2. Aqui jaz um século
onde se acreditou
que estar à esquerda
ou à direita
eram questões centrais.

3. Aqui jaz um século
que quase se esvaiu
na nuvem atômica.
Salvaram-no o acaso
e os pacifistas
com sua homeopática
atitude
— nux-vômica.

4. Aqui jaz o século
que um muro dividiu.
Um século de concreto
armado, canceroso,
drogado, empestado,
que enfim sobreviveu
às bactérias que pariu.

5. Aqui jaz um século
que se abismou
com as estrelas
nas telas
e que o suicídio
de supernovas
contemplou.
Um século filmado
que o vento levou.

6.Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
que se pensou dialético
e foi patético e aidético.
um século que decretou
a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.

7.Aqui jaz um século
que opondo classe a classe
quase se desclassificou.
Século cheio de anátemas
e antenas, sibérias e gestapos
e ideológicas safenas;
século tecnicolor
que tudo transplantou
e o branco, do negro,
a custo aproximou.

8. Aqui jaz um século
que se deitou no divã.
Século narciso & esquizo,
que não pôde computar
seus neologismos.
Século vanguardista,
marxista, guerrilheiro,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
borges-kafkiano.
Século de utopias e hippies
que caberiam num chip.

9. Aqui jaz um século
que se chamou moderno
e olhando presunçoso
o passsado e o futuro
julgou-se eterno;
século que de si
fez tanto alarde
e, no entanto,
— já vai tarde.

(...)

domingo, 27 de dezembro de 2020

Gabriel, 7 anos, minutos após receber o presente de Natal na porta de casa, não deixou de observar que o papel que os embrulhava o seu presente e o do irmão era igual aos que embrulhavam o restante dos presentes, adquiridos por sua mãe, na árvore. 

Mais uns minutos, creio que observaria também que a letra do Papai Noel no nome do embrulho era igual a letra da sua mãe.