quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Pablo Neruda

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.

A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

*retirado do facebook da Tatiana

domingo, 28 de outubro de 2012

"Sigo escrevendo  esta  emoção 
louca  tentando  despistar  que não sou louco  e  chorando  digo: 
gente  não sou louco,  sou músico,  engenheiro do DER e do mundo, 
viajante...,  sou oficial reserva do exército do meu país, sou do 
interior tenho procedência e endereços certos." - meu pai

Não sou louco, sem mais.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Há pouco mais de 1 ano, tive meu carro arrombado pela terceira vez perto de onde trabalho. Foi durante o dia, mas sobre um grande temporal que deixou a cidade parecendo um cenário de guerra devido as árvores e postes que foram ao chão. Desta vez, o meliante roubou a minha bolsa de academia (com tennis e etc) e um cantil. Talvez, devido ao aborrecimento, voltava para casa certamente meio entristecido, após sair do prédio da minha ex-namorada no Coreu. Na última curva perto de casa, meu carro, um Celta ano 2001 que me acompanha há mais de 8 anos, escorregou na lama depositada pela grande chuva na curva. Foi um momento de grande sufoco e adrenalina. O freio do carro de nada adiantava. O carro simplesmente dançava sobre a rodovia. Com muito custo, consegui algum controle sobre o veículo, mas acabei batendo de lado naquelas barreiras de concreto que dividem a pista. Foi de leve, não quebrou os faróis como imaginei que fosse ocorrer, mas o para-choque foi danificado totalmente devido ao esforço cisalhante.

Quando tenho um problema, gosto de resolver o mais rápido possível. É uma maneira de diminuir a ansiedade, pois vemos as coisas se resolvendo e é assim que tenho conduzido a vida, desde que meu pai morreu e eu assumi as várias responsabilidades por ele deixadas.

No entanto, somente agora, mais de um ano depois tive tempo, dinheiro e principalmente tranquilidade para deixar o carro numa oficina para arrumar o parachoque, paralamas e a porta que ficou muito danificada após o roubo.

A vida segue.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

"- Mas por que não pode amar a todos nós?
- Não há bastante de mim para isso."

Diálogo entre Toni e Jung. "Um mundo transparente" - Morris West

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O sapo e o escorpião

O sapo e o escorpião  - Sobre a maldade e a ingratidão

Certa vez, após uma enchente, um escorpião, querendo passar ao outro lado do rio, aproximou-se de um sapo que estava à beira e fez-lhe um pedido:
"Sapinho, você poderia me carregar até a outra margem deste rio tão largo?"
O sapo respondeu:
"Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, eu vou ficar paralisado e morrer."
Mas o escorpião retrucou, dizendo:
"Isso é ridículo! Eu não pagaria o bem com o mal."
E o sapo sempre se negando a levá-lo. E tanto insistiu o escorpião que o sapo, de boa-fé, confiando na lógica do aracnídeo peçonhento, concordou. Levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio. No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo.
Atingido pelo veneno, já chegando à margem do rio, moribundo, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou:
"Por que você fez isso comigo, escorpião ? Qual o porquê dessa sua maldade ? Diga-me. Por quê ?"
E o escorpião respondeu:
"Não sei... Sabe, não sei mesmo !!! Talvez porque eu seja um escorpião e essa é a minha natureza..."

Retirado do site, onde há também a versão em espanhol:
http://www.fabulasecontos.com.br/?pg=descricao&id=106

terça-feira, 16 de outubro de 2012

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A saca de sal

Texto do Contardo Calligaris

A saca de sal

Antes de viver juntos, seria bom consumir uma saca de sal. Para o quê? Para se conhecer melhor?

COMEÇOU COM um e-mail bizarro me avisando que o restauro da Fontana del Sale (a fonte do sal, em Novi Ligure, Itália) estava terminado (bizarro porque o restauro foi terminado um ano atrás). Imediatamente, a mensagem evocou em mim um momento esquecido.

Novi Ligure (leia-se "lígure") é uma cidade de menos de 30 mil habitantes; apesar de seu nome, ela não está na Liguria, mas no Piemonte. Num domingo de inverno do fim dos anos 70, eu atravessava a Piazza Mariano delle Piane, em Novi, com minha avó Elena.

Sei que era domingo porque ela tinha pedido que parássemos (íamos de Rapallo a Casale Monferrato, visitar amigos) para que ela escutasse a missa. E sei que era inverno porque ela estava com um sobretudo longo de cachemira um tanto surrada, mas especialmente mórbida, com um colarinho do mesmo astracã cinza de seu chapéu "clochê".

Também ela tinha enfiado a mão, numa luva escura, debaixo do meu braço, mais pelo calor e pela intimidade do gesto do que por necessidade de apoio ao caminhar.

Eu estava lhe contando que acabava de me juntar com uma mulher, na cidade onde eu morava, que era Paris. Ela parou diante da Fontana del Sale, que está no meio da Piazza.

"Fonte do sal" não é um apelido. No passado, o sal era crucial para preservar os alimentos (pense no bacalhau), era vendido em sacas, e era precioso. Em 1814, os noveses defenderam sua reserva de sal contra franceses e ingleses. Para celebrar o esforço, foi construída a fonte, no meio da qual surge uma figura, que aperta contra o peito uma saca, que se parece com uma daquelas almofadas que as crianças querem sempre consigo e sem as quais elas não conseguem dormir (uma foto da fonte: http://migre.me/aKii8).

Minha avó, olhando para a estátua, disse: "Prima di vivere insieme, bisogna consumare un sacco de sale" -antes de viver juntos, é preciso consumir uma saca de sal. Minha avó era religiosa, mas sábia demais para se opor ao fato de eu me juntar sem me casar. Sua preocupação era com a precipitação.

Eu, nascido em tempos de geladeira, não sabia quanto tempo duraria uma saca de sal. Mas o recado era claro: antes de se juntar, um longo namoro é oportuno.

Há uma constatação que eu faço com frequência: não sei quem começou, se fomos nós ou se foram a literatura e o cinema, mas, em geral, no início das relações, a gente idealiza tanto o parceiro quanto o novo envolvimento afetivo ou sexual (as dificuldades da etapa seguinte ficam para a comédia, se não para a farsa). Consequência: o exórdio das relações aparece como um momento glorioso, cujo espírito se perderá, inelutavelmente, ao longo do tempo, consumido pela trivialidade do dia a dia e da convivência.

Uma leitora, Ester Costa, comenta: "Eu acho que, na verdade, começa mal e vai piorando. É ruim e errado desde o começo, e a gente sabe, mas, por decreto decide que vai continuar. Ninguém esconde do outro o que é, a gente é que não quer enxergar". Ou seja, "o germe da destruição" das relações está no seu começo, "o ovo da serpente está aí".

Outra leitora, Mariana Seixas, vai na mesma direção; ela acha que, quando encontramos alguém "com quem no futuro dividiremos uma vida e quatro paredes, (...), não conhecemos bem a pessoa", e o futuro nos apresentará "uma pessoa diferente daquela dos primeiros meses de namoro".

Em outras palavras, a degradação das relações está num defeito de fábrica, numa pressa ou num descuido do encontro inicial, em que, paradoxalmente, falamos demais e não nos mostramos o suficiente.

Minhas leitoras têm razão. O momento do encontro é enganoso, por um viés de otimismo: valorizamos tanto o grande amor definitivo que acabamos enxergando sua miragem no horizonte, mesmo quando não há por quê. Você lê os três primeiros números sorteados da Mega-Sena, são os que você jogou, o coração já dispara -embora até lá você não tenha ganho absolutamente nada, nem a consolação de uma quadra.

Seria bom, em suma, segundo minhas leitoras, que os futuros consortes se conhecessem melhor.

Em tese, eu concordaria. Mas, naquele domingo dos anos 70, eu completei a frase de minha avó perguntando-lhe, justamente, se o tempo da saca de sal era para o casal se conhecer melhor. Ela fez o gesto de quem descarta uma estupidez e disse: "Ma vá un po', non per conoscersi; per abituarsi", deixa de bobagens, é preciso de tempo não para se conhecer, mas para se acostumar.

domingo, 7 de outubro de 2012

sonho

Acabava de acordar e subir as escadas da casa (adquirida pela minha irmã). Chovia muito e absurdamente o telhado recém reformado pela minha irmã estava repleto de goteiras. Meu irmão estava atônito na sala olhando as goteiras - algumas delas com panelas no chão, mas sem fazer nada.

Ao mesmo tempo, uma buzina veio do lado de fora. Minha irmã ou minha mãe (não tenho certeza) gritavam por ajuda, mas sem desespero. Quando lá ceguei, havia vários carros parados na rua e algum casal convidado do vizinho não conseguia manobrar seu carro e subir a rua, porque a mesma estava estreita por terem parados carros dos 2 lados da rua.

O casal de vizinhos, Walter e Marise, observavam a manobra dos amigos. Minha irmã estava no carro de trás querendo sair com pressa. Atrás do carro que tentava manobrar, havia um avestruz gigante, com pernas de mais de 4 metros de altura. Alguém montava o avestruz, mas não pude ver quem era e logo o mesmo conseguiu sair entre os 2 carros. Achei a situação normal (?), só lembrei em comentar ironicamente com os vizinhos que não dava p/ parar carros dos 2 lados da rua.

Voltei alguns metros e praticamente ao mesmo tempo minha mãe se queixava de seu sapato que fora presente de Natal ter descolado a sola totalmente horas antes, deixando-a em aperto na rua com chuva. Minha avó, ao lado, se sentia co-responsável, pois ela que havia presenteado-a com o sapato... Nisso minha irmã volta, reclamando indignada que o casal de vizinhos havia sido grosseiro com ela. Sai em disparada para mandar o casal "tomar no cu", mas no meio do caminho acalmei-me e pensei em só tocar a campainha e discutir a situação... acordo gritando o nome da minha irmã! 

sábado, 6 de outubro de 2012

"Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não disse, mas acho que você soube. Pena que as grandes e as cucas confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonha do que é bonito. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim." Caio Fernando Abreu.